Aqui nas horas da madrugada fora
Tenho pena que a vida já não seja minha
Que a carência tenha vindo à tona
Que já não saiba o que antes tinha.
As pedras da calçada rebolam gastas
Na luzidia confusão do sol nascente
E na parca consciência de outras marcas
Exista ainda a tua, pendente.
É ferro o que sinto a queimar-me
É gosto do sangue, vermelho, de qualquer cor
Aquele que nos une, a ensinar-me
A já não chorar o teu calor.
É pena as palavras que já disseram
Foi dito, escrito, feito ao acaso
É pena que as que disse, que já me fizeram
Não sejam, hoje em dia, o que faço.
Não espero que as preencha
A vida inteira, mas que vivam
Se eu me morro e que se me encha
A alma de cortes de respiração
Nas horas em que as sinta a passar.
Não quero voltar a ser criança
Se na vida não puder a todo o custo
Perder-me no ritmo desta dança
Que me arca e me embarca no futuro.
Se a estrada não for feita de caminhos
Perca-me eu no meio dessa mesma
Mas digam-me um dia com certeza
Que errei em perder-me de mim.
Tenho pena que me escapem as palavras
Os ditos, as caricias do saber
Mas sem saber, sem ser, sem ter
Sou mais eu nas horas vagas.
Sem comentários:
Enviar um comentário