River Flows in You

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Sem senti(r)do

Chorar faz sentido para alguns porque marca um sentir mais profundo do que aquilo que o espelho mostra. Mais do que lágrimas, mais do que gotas de água límpida mergulhadas num quê de sal, chorar é uma amarra solta a uma vida de que não se gosta ou que não se entende.

Não entendo, realmente, o que a vida me faz, mergulhando me numa dormência de não saber o que fazer, capaz de sentir dor ou de me rasgar a mim própria apenas para saber que estou viva, que dentro de mim há um coração que bate com uma regularidade que me assusta. E se ele falhasse, e se eu pudesse fechar os olhos por um segundo, esperando pela interrogação de saber se chegaria um fim ou um principio… seria uma melhoria pelo simples facto de ser uma variação na rotina, algo a que me agarrar.

Nadar contra a corrente de nada importa, de nada serve, de nada vale, não vale os músculos cansados e os olhos a arder, não vale os fôlegos por entre dentes cerrados e as desesperadas tentativas de manter a cabeça à tona… o mar é mais forte e as ondas mais poderosas.

E aos que marcam as margens de mim própria, aos que me estendem uma corda frágil que se partirá de um momento para o outro, fazendo me voltar ao meio de uma qualquer rebentação, a eles digo que me deixem para chegar à praia e me deitar na areia quente, porque é numa miragem que eu quero descobrir se existe ou não sentido para nadar de novo, começar o caminho de volta para buscar a melhor praia. A eles digo que me deixem para o fim, se for isso que me espera, porque as minhas forças esgotam-se e o meu coração afoga-se nos seus próprios batimentos regulares, e a minha dor – aquela que me assegurava o facto de estar viva – fez de mim algo de tão novo, tão desconhecido e tão incapaz que prefiro esquecer-me de mim e esquecer-me do Mundo, ser fiel às minhas próprias convicções e procurar a dignidade que me permita dar descanso aos meus músculos, com a praia longe no horizonte.