River Flows in You

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Danço às voltas
Nas voltas que a vida dá.
Danço, cansada, num corropio
Por não poder deixar,
De dançar.

Os pés movem-se com o
Ritmo próprio, no contra-relógio
De notas, bateres de asa
E de um coração, cansados
Talvez desesperados, de saber
Que parar é morrer.

Danço com bolhas nos dedos
Guardando os meus segredos
Nas voltas que eu dou
Sobre a vida
Que gira, perdida
Sobre o seu próprio ar
Que não chega, respirar
Para ser de novo dia
Em que pára, o fim do dia
E eu paro de girar
E consigo continuar
Em frente, se dolente
Sem dar voltas e voltas
No mesmo lugar,
Mesmo que a dançar,
Na vida.

Danço sobre a fogueira
Que arde de tal maneira
Que o céu fica corado
E o mundo fica molhado
Das lágrimas que caem
Para me tentar apagar
Nesse sem fim de madeira
Que corre a atear
A mesma fogueira
Onde eu consigo dançar
Às voltas e voltas
Sem me cansar
Na pressa de chegar
A qualquer outro lugar
Onde a vida não seja um ciclo
De pés girando em círculos
Sempre, sem abrandar.

Não posso deixar de girar
No mesmo, no mesmo lugar
Com medo que o mundo fique
E eu deixe de cá estar
Para me procurar
Entre as voltas que a vida dá
E o que será de mim
Neste sufoco de mesma coisa
No fim de passados anos
Sem que se cumpram os meus planos
De ser mais do que voltas e voltas.

Quero dançar a direito
Neste caminho estreito
Que se faz de encruzilhadas
Amores e largas passadas
Para o mundo no seu todo
Para poder ver águas passadas
E deixar-me ir
Sempre a seguir
O caminho que tracei,
Para onde conseguir
Sem parar de rir
Porque o mundo não é direito
Mas o caminho é sempre em frente
De corpo forte, a puxar a mente
Para fugir
Da monotonia, procurando
A magia, de ser leve
Em mil momentos, breve
Com os pés a tocar o chão
Numa mesma direção
Mas seguindo, sem girar
Sempre no mesmo lugar.