River Flows in You

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Telhados de Vidro

Piso no chão os cristais frágeis
De uma história que se partiu em mil pedaços
Ficou na fragilidade do açúcar
Que os compunha, teu doce olhar


Aqui, onde o Sol nasce a cada manhã
Mesmo no fim do mundo
No meu cubo transparente de fino gelo
Olho em volta e vejo cores
De um arco-íris que canta e corre
Num fio de lágrimas
Congelado no teu olhar reflectido
Nos vidros que cobrem a minha cabeça
E sustentam os meus pés
Os meus passos cansados

A história que tenho para contar
Fica eterna, cinzelada nas folhas
Do meu mundo de vidro
No meu mundo de frágeis cristais de açúcar
E o não aguentar e chorar a cada dia
Torna-me diamante
Inquebrável.
Torna-me parte deste palácio
Deste mundo transparente
De cores infinitas ao sol

E nos dias de chuva, quando o vidro se apaga
Quando com as minhas lágrimas
Crio um pouco mais deste conto de fadas
E mais um pouco se parte
Nos cristais que piso
Nos finos pedaços de açúcar
Onde vejo o teu olhar de mil cores
Mesmo nos dias de chuva, de mil cores.

E no caminho de arestas aguçadas
Doces de um açúcar fino
Como folha de papel
Se reconhecem as letras das palavras
Que foram cantadas no meu fio de lágrimas
E ao andar sob o fino gelo
Sem temor de cair no abismo
Percebo que este é o Meu mundo
Que nele medo não existe
Nem sangue dos pequenos cortes do gelo fino

Este é o Meu mundo
E nele Eu reino.

Untitled

A luz da pequena vela encharcava as paredes num tom desvanecido, quase de luar. O velho gira discos que havia tantas horas esgotara a melodia e as palavras rodava incessantemente, riscando o disco.


Olhei o relógio parado na parede escura da pequena sala, pensando que voltara a viver, mas apenas os pingos de cera da vela marcavam os segundos no pulsar constante de um coração que já não batia.

Fechei os olhos sobre os fios de lágrimas que escorregavam na minha pele nua e abracei-me num silêncio gelado que por momentos se fez notar. O vento parara de mexer as folhas cobertas de palavras, que nunca conseguiria mover, estendidas no chão lá fora; os pingos de cera ficaram suspensos a um milímetro da madeira carcomida do chão; O gira-discos engoliu a sua própria estática, deixando de rodar. Fechei os olhos sob os fios de lágrimas que escorregavam na minha pele nua e o tempo parou.