River Flows in You

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Fecha-se uma porta mas abre-se sempre uma janela, nem que seja para dentro de mim própria...


Encontro-me sentada num alheamento completo
Encontro-me, melhor dizendo, num desencontro
Total, simples.

As cartas do meu baralho
Espalhadas como brasas quentes
No chão, em volta, numa prisão
De passos afastados de si mesmos.

Encontro-me, não sei dizer quando
Depois de quanto, o tempo que passei desencontrada
A fixar o branco, e não tão branco
Da parede fria, lisa, gasta, farta
De um fixar tão constante, tao longo e tão indecente
Que cora a parede branca na vergonha de algo tão (im)puro.

Encontro-me, de faces rosadas
Como as rosas de pétalas rosa
Brilhantes de orvalho e maresia
Que sem espinhos, nem vontade,
Se deitaram a aquecer-se por brasas
De passos diferentes.

Encontro-me surreal, alheia
No espaço que é o meu espaço
No espaço que é o meu tempo
Que foi o meu tempo,
Até que o partilhei.

Encontro-me apenas por saber onde estou
Porque o resto tudo é mudo, e surdo e cego
E torto.

Encontro-me no sol da meia-noite
Que não existe na distância que me rodeia
Que me faz real e me deixa para que me vejam
Na praia onde me encontro na parede branca.

Encontro-me na colcha tosca
Que aperto e aparto
Mas que me cubra a colcha tosca
E que me esconda, sem que o faça
Para que me encontre, completa.

Encontro-me a olhar-me sem me ver
No quadro que pende da parede branca
Onde o que sou é puro e duro
Mas onde o que sou é muito menos.
Encontro-me sem que me descubra
Nos veios que raiam de um ponto
Onde as veias se abriram para largar
A essência.

E encontro-me nesse ponto vermelho, ao centro
De ondo o resto de mim pende, retorcido
Pelos veios que criei ao quebrar-me
Sem me destruir.

Encontro-me nos pontos, nas pétalas, nas brasas
Jogadas ao acaso a marcar caminho
Entre o espelho que odeio e que quebrei
A libertar-me da prisão de uma imagem
Que não me diz, que não me manda, que não me define

Encontro-me nesse espelho quebrado em mil
Ângulos que me partiram por se partirem
E sei-me muito mais, muito melhor
Que a imagem de mim que encontrei todos os dias
Num espelho que, embora gasto era uno
E a prisão que sempre me fez
Em barras apertadas que agora carrego
Ás costas, a minha cruz, por ter vontade.

Encontro-me nesse espelho, de olhos abertos
E nele agora vejo mais do que uma criança
E nele agora vejo mais do que uma tela branca
E nele vejo. E nele vejo-me.
Com falhas e quebrada, assim sou eu
Com falhas e quebrada, assim eu quero
Com falhas e quebrada, estou pronta.

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